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Friday, April 28, 2006

DOMINGO DE RAMOS - FESTA DO FOLAR

DOMINGO DE RAMOS – FESTA DO FOLAR
(Tentativa para explicar a tradição do Folar Transmontano)

A palavra “Folar” tem a sua origem na retribuição que o Padrinho dá, ao Afilhado, na Páscoa. Tradicionalmente o ritual do Folar iniciava-se quando o Afilhado levava o "Ramo" (folha de palmeira enfeitada) à "Missa de Domingo de Ramos" para aí ser benzido. Depois, no Domingo de Páscoa, o Afilhado entregava o “Ramo” ao Padrinho com a saudação: -"Dê-me a sua bênção, meu Padrinho". Este estendia a mão para ser beijada e respondia: -"Deus te abençoe"; e fazia a entrega do Folar, (tanto podia ser em dinheiro como em pão pascal). Com o passar do tempo, o pão pascal passou a ser designado, apenas, por Folar.
Como pão pascal, existem dois os tipos de Folar: o “tradicional” (em todo o país) e o “transmontano” (só em Trás-os-Montes). Apesar de ambos serem feitos com base numa massa lêveda de farinha, ovos e gordura, são bastante diferentes.

O Folar tradicional é ligeiramente doce e aromatizado com erva-doce. Tem a forma redonda encimada por ovos cozidos, símbolo da criação (alegoria à Primavera).









O folar transmontano pertence à família das bolas, por ser recheado com carne de porco (marrã).






Apesar do Folar ser um pão cerimonial da Páscoa, tal como o “pão ázimo” da “Última Ceia”, são, no entanto, muito diferentes.

O pão ázimo é feito, apenas, de farinha sem fermento (tipo bolacha) para ser servido na “Pessach” (Páscoa judaica) simbolizando a purificação e o sacrifício, aquando do “Êxodos” e das consequentes privações dos judeus.

Ora acontece que a Páscoa cristã é uma festa de alegria para comemorar a ressurreição de Jesus Cristo e, por isso, o seu pão pascal, o Folar, não pode ter origem no pão ázimo.




Mas é sabe-se que os judeus celebram o “Shabat”, dia de festa (por uma semana de trabalho), com um pão em forma de trança, feito de massa idêntica ao Folar (massa lêveda para simbolizar a abundância), a que dão o nome de “Shallah”.

Como o “”Shallah” é anterior ao Folar é possível encontrar nele a origem do Folar “tradicional”.
Quanto à origem do Folar transmontano poderemos, também, encontra-la no “Shallah”, mas, neste caso, a inter penetração das culturas foi mais significativa.

A tradição do reco bízaro (porco ibérico), que existe no quotidiano transmontano desde tempos imemoriais, impôs-se e invadiu o “Challah” (kosher – puro), transformando-o em marrano (não kosher), por conter carne de porco, marrã (coisa proibida pela lei de Moisés). Por isso, o Folar transmontano, por tradição, só era confeccionado, em fim de Quaresma (período cristão de abstinência de comer carne), ou seja, no Sábado de Aleluia, para ser comido, ou oferecido, no Domingo de Páscoa, final da Semana Santa.

Hoje, o Folar está a ser reduzido a emblema da gastronomia transmontana e Valpaços assume-se como Capital do Folar, no Domingo de Ramos. Contudo, em Lisboa, já há pastelarias que o vendem durante todo o ano!
Até quando o Folar, ainda, vai ser recordado como uma relação Padrinho – Afilhado?